terça-feira, 2 de março de 2010

canto

das muitas lições dadas, quase uma a cada palavra saída da sua boca como um megafone onde crescem nenúfares, copio com um pequeno lápis entre os dedos, as funções enérgicas da alma do poema. o doutor senta-se no café e canta. canta com os braços bem perto da mesa, canta com uma letra que sugere segurança recatada. nós assistimos como quietos, o tamanho dos nossos corpos a reduzir-se perante o palco onde o doutor cresce, e percebemos os nenúfares sobre a água, enquanto fora chove e as pessoas correm, despercebidas. nós assistimos e, nos dedos, um pequeno lápis, sublinha as palavras caídas nos cadernos onde o amor é ainda um território do possível, algures entre a realidade de uma meia de leite e toda a poesia do mundo.

para pedro eiras