a poesia de petr borkovec não é evidente. tem uns muros altos, na entrada, que chegam a ser pouco convidativos. demorei dias a chegar-lhe, a entender-lhe os versos, as palavras. digo-lhe, no cais de gaia, que me sinto próximo da ambiência de desolação que ele carrega nos seus poemas. ele ri-se, como quem não acredita ser possível que se lhe perceba assim o âmago do que escreve. no seu comboio:
os céus abrem, dilúvios de luz: pai
com filha adulta, macia, eu, o cheiro
das roupas molhadas, alguns lugares atrás uns soldados.