sábado, 25 de setembro de 2010
sábado
seja o sábado sagrado e corrompam as vestes todos aqueles que se atrevam a passar para lá do rio que corre às portas da cidade. seja o sábado sagrado, a voz pesada do pároco repete, pela matinada. aquele a quem se chama o povo passa, de cabeça baixa, esperando que a chuva o baptize neste inferno. acaso haverá alguém sabedor das periferias do desejo? acaso somos nós os responsáveis das tristes sinas em que mergulhamos? seja o sábado sagrado e facilmente identificável quem se amarre no pecado - que traga nos pés a lama, na cara a vermelhidão, na boca o amargo. seja o sábado sagrado, a voz pesada ecoando nas cabeças. pela matinada, aquele a quem se chama povo passa, engole em seco, depois de bem esfregados os sapatos nas ervas daninhas do adro. não vá o acaso encontrar, no simples desleixo, frutuoso caminho para a mesquinhez dos outros.