quinta-feira, 23 de setembro de 2010

passeio

nunca me viste fora da carapaça, não sabes ler a textura dos meus ossos - as coisas arrumadas na prateleira da sala, arquivo futuro de uma guerra invisível, ter outra vez dezasseis anos e ser o idiota do liceu - e na textura dos meus ossos poderias encontrar a solução para todos os problemas do mundo, ou, pelo menos, para os problemas que o mundo te traz - a chave de casa perdida na rua principal, um telefonema de um número desconhecido, as coisas pequeninas em que decidimos acreditar - e tu não queres perceber que o mundo se resolve atravessando a estrada, por muito trânsito ou fogo que ela tenha, atravessa-se a estrada, queima-se a ponta dos cabelos e ficamos do outro lado, prontos a encontrar o que de novo vier - um qualquer amor de ocasião, uma folha em branco, o medo todo do zero naquele passeio.