sexta-feira, 10 de setembro de 2010

garrafa

olhou várias vezes a garrafa em cima da mesa. a garrafa em cima da mesa. perguntava-se a si próprio porque precisava, tantas vezes, de recorrer ao gesto de abraçar e provar o forte líquido que ali estava guardado. olhou várias vezes a garrafa. não precisava dela para falar, para respirar ou viver. não precisava dela como companhia, como ideal. não precisava dela para nada mais do que matar-se um pouco mais, a cada noite que passava. olhou várias vezes a garrafa. entornou o líquido no copo, encantou-se pelo brilho das luzes da sala, como se dançassem. bebeu, uma e outra vez, bebeu para que no fim tudo restasse vazio. a garrafa, sim, mas também ele. ele próprio. e o seu corpo.