segunda-feira, 13 de setembro de 2010
rasgão
rodeou a boca com um lenço sujo, apanhado do chão. penteou, com fragilidade, os cabelos, saliva entre os dedos para acalmar as fúrias da cama. tentou alinhar a roupa de encontro ao corpo, não foi capaz. mergulhou todos os sentidos na inconsciência da sua companheira. sim, tinha uma arma de fogo, ilegal licença para caçar. no quintal corriam coelhos, voavam perdizes. rodeou a boca com um lenço sujo, apanhado do chão. procurou a primeira loja da rua, entrou pela porta, disse mãos ao ar. era uma figura magra, conhecida por todos, os olhos mais assustados do que nunca. deram-lhe algumas moedas, as poucas notas da segunda-feira, uma sandes de manteiga. ele correu assustado até aos limites da cidade. arrancou o lenço e comeu, sofregamente, o pão. nunca mais ninguém soube por onde parava.