sexta-feira, 17 de setembro de 2010

memória

uma manhã nisto, o chão sujo, as paredes envelhecidas e as palavras em repetição até ao infinito. uma manhã nisto, água a ferver até que a panela seja labareda, algum sangue no sofá, o prepúcio rasgado, uma face de pânico enquanto as pernas, antes todas claridade doce, se transformam, lentamente, na podridão do sangue seco. uma manhã nisto, a fraqueza do corpo assim surpreendido, a fraqueza da mente que se observa perto da morte, apenas ferida. uma manhã nisto, quase hora do almoço, quase hora de inventar a limpeza. a memória, essa, será para sempre suja.