terça-feira, 21 de setembro de 2010
morte
era capaz de dizer a limpeza, mas bateram à porta e eu abri e era a morte. a morte anunciada, a morte. conhecemos as pessoas jovens e plenas de energia, até que um dia uma tosse, uma rouquidão, depois um lenço, depois um andar mais lento, depois uma conversa, uma notícia, uma ausência prolongada, depois, bem, depois batem à porta e era a morte. logo hoje que eu seria capaz de dizer a limpeza, logo hoje, a morte. a morte chegou e tratou da burocracia. alinhou as datas da agenda, manteve-se fria perante o anunciado, planeou, como se nada fosse. a morte, quando repetida, é mais leve, talvez, digo eu, penso eu, não estou seguro. pois bem, era a morte, a morte a tratar dos seus assuntos. e na minha cara, entre a tristeza, o medo de não saber o que dizer. o que dirias tu se a morte te batesse à morte? a minha cara triste e assustada, a repetir murmúrios. e no último aperto de mão, a morte sorriu. sim, a morte sorriu.