quinta-feira, 3 de junho de 2010

este silêncio todo

ir e vir e este silêncio todo, estas palavras todas que ficaram por aqui, sem ninguém que lhes tocasse. engraçado como ainda ontem falavamos em frente a garrafas de água gaseificada sobre esta necessidade de alguém que nos leia. ir e vir e este silêncio todo, e se ninguém me lê, escrevo para quê, para quem? vim a estrada toda a pensar em palavras, em palavras. ir e vir e todo este silêncio, todas estas palavras.ligo a música dos teus rapazes do sul e fico sentado a sentir o calor cá de casa. quando fecho os olhos lembro-me da brisa do mar de espinho, essa aldeia com ruas geométricas e cafés nova iorque de onde se vêem senhoras de saias e aventais pretos a atravessar a estrada. ligo a música dos teus rapazes e lembro-me de coisas que se passaram muito devagar entre nós. ir e vir e este silêncio todo. apetece-me repetir, ir e vir e este silêncio todo. tantas e tantas palavras. aquele quarto de pensão sem nada nas paredes, aquele quarto de escritor maldito, sinto saudades. ou não, não sinto saudades nenhumas, mas há um qualquer sintoma de privação que me agrada. agora é ficar aqui sentado a sentir o calor de casa. este calor todo só do lado de fora.

texto originalmente publicado no blogue esferovite a 5 de junho de 2005