quinta-feira, 28 de outubro de 2010

criança

os meus olhos queimados - não restam lágrimas para o calor das chamas - não chorarão mais a língua presa, o dedo quebrado ( o acaso de apontar na hora errada, porta fechada directa ao coração), a ponte liberta. eram onze da manhã de um dia qualquer, comias uma sandes de fiambre, lavavas os dentes pouco depois - da vida sabias nada, apenas um cartão no bolso, algumas moedas para o que desse e viesse ( também penso agora nos quatrocentos escudos que gastei contigo, quatrocentos escudos, quanta fortuna quando nem um beijo me deste), nenhum rancor no coração. os meus olhos queimados - não, não sei de ti - e nunca mais nada entre nós (a tua vergonha, os meus medos, vamos excluí-los da equação), como se nunca mais fosse possível sermos crianças outra vez, como se isso, o tempo inteiro, fosse mesmo verdade.