segunda-feira, 18 de outubro de 2010

boca

ela tinha na boca a luz e entre as pernas o segredo dos afectos. recebia-me com a leveza das tardes limpas e o sorriso das crianças encantadas. depois, despia-se devagar pelos corredores, apertando-me os braços e as ideias. puxava-me pela língua, fazia-me falar. ela tinha na boca a luz e o seu sexo era afável e afectuoso. recebia-me em silêncio, a água escorrendo pela parede. depois, eu segurava-a como quem adormece, temia-a na sua fragilidade e deixava-me cavalgar como quem esquece. ela tinha na boca a luz, ainda, e entre as pernas eu encontrava-me acordado. nada do meu corpo restou marcado, apenas o sorriso luminoso me atraiçoa os pensamentos, se fecho os olhos, se apago a luz.