sexta-feira, 23 de julho de 2010

fenda

e porque o meu peito é uma fenda aberta onde eu tento não cair, coloco, junto à berma, um aviso à navegação. sentado numa cadeira de lona, vejo os carros que chegam, um atrás do outro, descendo as montanhas que me rodeiam. numa mão um cigarro, na outra um livro, espero que o tempo componha a sua aproximação. e porque o meu peito é uma fenda aberta onde eu tento não cair, preocupo-me ainda com as quedas dos outros. sentado numa cadeira de lona, ninguém diria que, daqui, vejo o mundo em toda a sua grandeza e fealdade. numa mão a caneta, na outra o telemóvel, quem me ligará quando sou eu o fim da estrada? o meu peito é uma fenda aberta onde eu tento não cair. repito muitas vezes esta frase no silêncio. e quando me levanto, vou pé ante pé, seja qual for o destino.