segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

lugar


se os meus olhos te oferecessem a paisagem da minha infância, não irias reconhecer o terreno baldio, as longas vinhas cheias de uva. irias antes tentar compreender como o vazio se preenche, não de memória, mas de tijolo. se os meus olhos te oferecessem a paisagem da minha infância, o lado de lá do muro, a estrada para o lar onde vivia a avó velhinha, tu ias procurar um homem onde só havia uma criança, ias procurar um qualquer plano municipal onde só havia inocência. se os meus olhos te oferecessem a paisagem da minha infância, tu não irias compreender a cidade, os homens nela, as escavações. porque na ideia ainda tudo está como dantes. e o teu lugar não é o lugar onde os outros vivem; ficou para ser, apenas, o lugar que é teu porque o foi um dia.
fotografia de joão henriques