sexta-feira, 20 de novembro de 2009
morrer a escrever
não se morre a escrever, diria o anjo sobre o ombro do escritor, ninguém morre a escrever. entre o sopro da morte e a sua chegada, a caneta cai e os olhos do escritor concentram-se nas suas últimas palavras, naquelas que ainda conseguiu desenhar antes da fragilidade dos dedos e nas outras que ficarão por escrever. não se morre a escrever. morre-se a ler. morre-se a pensar no que se poderia ainda escrever se não fosse a morte, se não fosse a ideia de que falta sempre ainda qualquer coisa, o que nos torna ansiosos e incompletos, mesmo no momento da morte.