era necessário levar os últimos sacos, limpar as coisas, antes que abandonassem a casa que durante anos tinha sido ocupada pelo filho. o mais difícil era conviver com as coisas do outro. o outro que lhe ocupara a cama, que lhe ocupara os sonhos, os sentidos. o outro, que agora era apenas um apagão, um buraco negro, na sua vida. entre as coisas caídas, aquela fotografia antiga. e, por momentos, a confusão na sua cabeça. quem seria, de onde viera, aquela fotografia, assim plantada como provocação entre as coisas do seu filho?
fingindo não se aperceber, largou-a entre papéis velhos, para o lixo. era o seu gesto silencioso de definição da fronteira daquele buraco. o seu primeiro gesto para a liberdade.
Paloma (1980) de Frank Espada