quarta-feira, 30 de setembro de 2009

mau

no fundo, o cavaco quer ter o discurso do scolari, mas tem a atitude do antónio oliveira e os resultados do queirós. é tudo mau, meus amigos. é mesmo tudo muito mau.

guerra

cavaco declarou guerra ao partido socialista. o partido socialista lançou os peões contra a presidência, o peão que a presidência tinha caiu na armadilha que ele próprio tinha criado, e teve que vir o presidente armar-se em forte para o ringue. o problema é que o ringue já não existia, o presidente demorou tempo demasiado e ficou apenas como um fantoche, a pavonear-se num lugar vazio. não é para estas figuras ridículas que os presidentes existem, é o que me parece.

um café com o povo

ontem, cavaco convidou o povo português para tomar um café e dar a sua opinião pessoal sobre estas confusões de quem escuta quem, quem se aproveita do quê, o que é que serve ao partido do governo e ao presidente e ao diabo a quatro. no fim, toda a gente saiu mais confusa do que tinha começado. nem com o presidente da república há cafés grátis...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

expectativas

pois, meu caro. porque não ter expectativas já é uma forma de ter expectativas. capice?

condenação

talvez seja essa a condenação do leitor: como encontrar uma maneira de ser surpreendido, se não se entra num livro sem expectativas?

palavra

procuras-te a ti mesmo no que vai sendo escrito, sendo que é difícil perceber o que é verdade ou mentira, o que aconteceu ou ficou por acontecer, o ponto-de-vista onde nasce cada palavra. procuras-te na palavra, mas só encontras aquilo que já pensavas querer encontrar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

horizonte

o horizonte é uma estrada, por terminar, esquecida no meio dos campos do alentejo.

estação de serviço

uma paragem na estação de serviço de grândola e, ao chegarmos junto ao balcão, a entoação da funcionária fez-me pensar que, ou eu ainda estava a dormir, ou então estávamos enganados na estrada. no entanto, era apenas alguém de santa maria da feira a trabalhar em grândola. algo aparente normal. não fosse o caso de pensarmos que aquela pessoa está a mais de quatro horas de casa para trabalhar numa estação de serviço. quando voltamos ao carro, acho que íamos todos a pensar nisso.

algumas apreensões sobre o meu país

apesar de quatro anos debaixo de fogo (muito por culpa própria), josé sócrates é reeleito primeiro-ministro, mantendo uma confortável maioria parlamentar que lhe permitirá ir jogando com as alianças sem ter a necessidade de se coligar só com um partido. isto diz-me qualquer coisa sobre os portugueses.

a oposição demagógica, com paulo portas à direito e francisco louçã à esquerda, foi a grande vencedora desta eleição.quando digo oposição demagógica, digo aquela oposição que pega em problemas laterais e os empola até os tornar mediáticos. quase sempre são problemas para os quais não têm uma solução. mas aumentam os seus grupos parlamentares a cavalgá-los. isto diz-me qualquer coisa sobre os portugueses.

o movimento esperança portugal vale 55 mil votos com laurinda alves e 25 mil votos sem laurinda alves. isto diz-me qualquer coisa sobre os portugueses.

40 por cento dos portugueses continua a achar que se faz um político pensar não indo votar. parece-me falta de pensamento próprio. isto diz-me qualquer coisa sobre os portugueses.

não há uma pessoa na liderança dos partidos políticos com representação parlamentar que se possa dizer ser uma pessoa de confiança. e isto diz-me tudo o que eu preciso de saber sobre os portugueses.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

braços

vais acumulando bandas sonoras na tua cabeça em cada viagem de carro. ao longo do tempo tudo parece misturado, perdem-se as referências de cada uma das músicas, de cada um dos sons. és apenas um tipo a dar aos braços a ser observado pelo condutor do carro na fila ao lado.

portátil

a festa invisível da literatura portátil está, continuamente, a acontecer. em cada recanto do mundo, aparentes casas vazias guardam, em si, longas festas plenas de loucura e anarquia. em cada uma dessas festas, um observador nervoso bebe altos copos de champanhe enquanto anuncia, apenas para si, a derrocada desta sociedade. e nas suas costas, alguém vai carregando os canos da espingarda.

dia

na cama, o dia parece fragmentário e corrupto, cheio de falhas e adiamentos, cheio de problemas irresolúveis, cheio de coisas que um banho quente apaga e uma taça de cereais regenera, algo leve para se levar calado até se chegar à cama de novo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

brilho

a rádio toca mas ele não ouve. a cabeça está perdida entre o sono e os livros pousados sobre a mesa de cabeceira. algures aí é onde a vida brilha: onde respirar é ainda possível, onde os músculos se descontraem, onde o cérebro se aceita. todo o resto do tempo é tensão acumulada, respostas que não sabe dar, procuras que não quer fazer. todo o resto do tempo é vontade de fechar para balanço, pedir escusas, dizer que volta mais tarde. até que chega, finalmente, a hora do brilhar mais uma vez.

sangue

depressa a mão sobre a face, a barba acabada de fazer, os olhos meio fechados no espelho, um fio de sangue, mínimo, demarcado no queixo.

portas

não lhe seriam pesadas as manhãs, se os dias fossem portas abertas onde a brisa entra sem pedir licença.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

segunda-feira

josé junqueira pareceu tirar o coelho da cartola quando foi buscar um discurso de salazar que é assustadoramente igual a um outro de manuela ferreira leite. mas não foi falta de aviso. desde o início que se diz que a política de verdade é uma política de raiz fascista e ditatorial. só a senhora manuela não o entendeu. só os bem intencionados votantes do psd não o perceberam. segunda-feira poderá ser já tarde demais.

números

deixem-se de merdas. estamos no país em que a sociedade ponto verde vai deixar de reciclar todos os plásticos que são colocados nos eco-pontos por uma questão de sustentabilidade financeira da empresa. quando até a reciclagem é uma questão de número, eu não quero ter nada a ver com este país.

dormir

dizia o outro que o que importa é viver. mas, contrariando toda a velocidade da juventude, que se mete "para já e em força" em tudo o que seja novidade ou moda, o que é realmente importante é dormir. dormir, mesmo que seja pouco. para depois estar realmente pronto para o que o mundo tem para nos dar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

justificação

no entanto, falar por intermédio de um gesto, é também uma forma de não aprofundar na explicação. dirão alguns que uma imagem vale mais do que mil palavras. mas uma sucessão de imagens que nenhuma palavra justifica, enfim, não é para isso que vamos a voto, meu caro cavaco.

garganta funda

ele que havia anunciado falar só depois das eleições, falou através do gesto, sem abrir a boca. nada que se compare, então, ao "caso garganta funda".

funcionário

homem de mão do presidente há mais de vinte anos, fernando não poderia nunca trair-lhe a confiança, usando-lhe o nome e inventando-lhe intenções. fernando seguiu ordens, como sempre fez. e agora, como eu dizia há uns dias atrás, o chefe deixa-o cair, na sua luta por manter o poder. cai fernando, cai o funcionário, mas cai também a máscara. e agora, aníbal?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

cidade

é quando tentas descobrir as formas mais antigas da cidade que percebes que a cidade existe.

bombeiro

quando morre um bombeiro a cidade estaca perante si própria. o cortejo funerário é como um rasgão que atravessa a cidade, baralhando-lhe os trânsitos, puxando as pessoas às portas e janelas, calando todos os pequenos barulhos que fazem o dia em cada rua. quando morre um bombeiro a cidade não chora. segura a lágrima para apagar um fogo que arderá no coração de cada um de nós e que sente a falta desse bombeiro que o apague.

seguir a história

tenho sempre a tentação de seguir a história, pegar numa ponta que ficou lá atrás esquecida e depois percorrê-la, pisando de novo chão que foi pisado, em busca de reviver algo que tenha sido ignorado pela memória. tenho sempre essa tentação. sempre.

domingo, 20 de setembro de 2009

ensopado

o mal é que, desde pequeninos, somos incentivados ao modo funcionário de viver, e isso não é um problema de um governo ou outro, é um problema global ao portuguesinho que tem avôs e pais criados na porcaria do regime de salazar (a coisa vai continuar, amigos, a coisa vai continuar, infelizmente). os funcionários pautam a sua vida pelo que lhes parece ser o certo e o agradável aos seus superiores. ora, mais tarde ou mais cedo, é vê-los cair, com os chefes, umas vezes, por causa da ingratidão dos chefes, noutras tantas. ou seja, se vais na carneirada, o mais certo é que acabes no ensopado (if you know what i mean...).

imprevisível

enviaram-me uma vez uma mensagem, em anexo à recusa da minha candidatura a um emprego, em que diziam que eu era "um jovem muito imprevisível". o autor dessa mensagem acabou por anunciar ao mundo, há uns meses, que se sente traído na confiança. é a chamada lei da imprevisibilidade.

lobos

e quer essa matilha de ferreiras leite, cavacos silva e jardins convencer agora o pessoal de que o ar se tornou irrespirável. pois!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

campanha eleitoral

todos nos lembramos muito bem do que aconteceu nos últimos quatro anos. nem todos nos lembramos assim tão bem do que aconteceu nos últimos oito. menos ainda dos últimos doze, dezasseis, vinte, vinte e quatro, vinte e oito, trinta e dois. pensemos: o psd deu-nos cavaco silva, durão barroso, pedro santana lopes. o ps mário soares, antónio guterres, josé sócrates. a política de verdade, prometida por manuela ferreira leite, caiu de madura perante o seu discurso mal ponderado. as scuts saíam caras, agora saem baratas. era preciso seriedade na política, mas os arguidos podem ser candidatos. o tgv servia os interesses dos portugueses, agora serve os dos espanhóis (independentemente do argumento financeiro). um bom amigo meu sempre me disse "devemos estar preparados para mudar para melhor". mudar para pior seria, a meu ver, uma idiotice.

adenda
perguntam vocês o que é que eu vou fazer pela mudança. respondo: aquilo que sempre fiz. evitar dar o meu voto aos partidos do bloco central. não faz sentido, nunca fez, que alguém que tem a possibilidade de optar, esclarecidamente, por um partido, o faça em agremiações de interesses. certamente, eu não tenho nenhum interesse nisso.

sério

o melhor, mesmo, é não nos levarmos tão a sério, encontrar, sempre, os espaços para fazer os intervalos de respiração, deixar que sejam os outros a encontrar o que é bom em nós, e continuamos como nós próprios, argumentista e actor da personagem em construção.

outono

adormeci numa noite de final de verão, passei pela varanda antes de me deitar, não havia vento, apenas uma brisa fresca do mar. não tinha passado nem uma hora de sono, e o estrondo forte da chuva a cair como nos invernos mais densos da memória. o dia amanheceu, depois, escuro. vi-o pelas sete da manhã, e a única luz era a do café que abria, no fundo da rua. depois do fim-de-semana, já habitaremos no outono.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

distância

hoje recebi um presente e eu gosto de receber presentes. veio pelo correio dentro de um envelope, coberto por um plástico. veio do brasil e tem na capa uma imagem de um comboio. por dentro, entre fotografias, poemas. poemas a sério, daqueles que não acontecem todos os dias. abri-o na página que vinha marcada, a trinta e três. "e muda o trem em metáfora quando,/ do menino, o menino desentende;/ pode-se dizer prolifera em ângulos,/ qual rascunho de autor indestro ou doente/ por não saber as curvas de aplacá-lo,/ nem as retas onde o corpo demora,/ até atravessar, sem cancela ou calos,/ a distância que, em outros, o desdobra."(fernando fábio fiorese furtado)

papel

sentado debaixo da luz percebo como o papel me faz falta. o papel como sinal de civilização, impresso o texto que me vem dizer quem eu sou, quem eu fui, quem eu gostaria de ser. percebo como o papel me faz falta e percebo como o papel faz falta a tanta gente. objecto táctil de prazer reservado ao pensamento, à análise, à paixão.

segundo

porque do vinho se fez lençol, ora jogado aos pés, ora cobrindo a cabeça, e da cabeça se fez filme, como se o mundo acontecesse um segundo antes de te aperceberes dele e esse segundo fosse o suficiente para que pudesses antever, com toda a certeza, o momento da tua morte.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

efeito gata borralheira

tomo agora a consciência que sete horas depois de ter acordado, fico muito perto de não me sentir capaz para fazer alguma coisa de jeito.

repetir

redescubro pelos confins do meu telemóvel uma frase tirada da página 76 do último livro que li do valter hugo mãe. "está bêbado e leva o santo pela mão". está bêbado e leva o santo pela mão.

bola

aos quarenta minutos de jogo, fucile vê-se rodeado de dois atletas do chelsea e vira sobre si próprio, chutando na direcção da linha lateral. na imagem seguinte, lampard está a dar-lhe uma palmada, leve e amigável, nas costas. como se, entre dois amigos, um deles diga "boa, rapaz, bem feito". no futebol profissional, na liga dos campeões. assim são os grandes, românticos apaixonados pelo jogo da bola.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

escritor

um escritor pode, muito bem, estar escondido dentro de um livro. de um livro que nunca abriste, arrumado na tua prateleira.

poderes da moça

já quanto aos poderes da moça da padaria, ele disse nada. no início de setembro, ela desapareceu. devia ser apenas um emprego de verão.

poder da literatura

em tempos julgou estar loucamente apaixonado pela moça da padaria. escreveu um livro. esse livro foi muito mal entendido pelas pessoas que o rodeavam. algumas deixaram de falar com ele. ele não ficou triste. desapontado, talvez. com o poder da literatura.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

campanha eleitoral

no debate eleitoral sócrates/ferreira leite de sábado passado, o que eu vi foi um tipo odiável a tentar fazer pela vida, enumerando uma lista de coisas boas que terá feito durante este período. do outro lado, uma senhora que não consegue ser coerente e a cada minuto desdiz aquilo que acaba de dizer. os analistas ignoram este facto e apostam no empate (aliás, quem ouça qualquer rádio e leia qualquer jornal nacional fica com a clara ideia de que o melhor é mesmo votar num destes dois ou então é o fim do mundo). infelizmente, a maioria da população portuguesa vota como se jogasse no totoloto, para ganhar (até porque entre os outros três líderes com visibilidade parlamentar, o deserto continua para lá da linha do horizonte). uma coisa: qualquer primeiro-ministro que saia desta eleição não será o meu primeiro-ministro, será sempre alguém de quem eu terei vergonha que represente o meu país. ainda assim, há que notar: durante o debate, ferreira leite anunciou com o optimisto nunca criou empregos. mas fodasse, doutora, se é para ser pessimista, junte-se ao povo no café. tenho dito.

érres

na antena um, em directo de setúbal, o repórter tenta fazer um resumo do que por ali se passou, enquanto ao fundo se ouve, "ó azenha, vai pró caralho". afinadinho e com acento nos érres.

saúde e bem estar

ontem à tarde, na fnac do vasco da gama, o livro estado civil, de pedro mexia, estava exposto na secção saúde e bem estar. alguém, naquela casa, pensa como eu.

sábado, 12 de setembro de 2009

cabeça e desejo

com as nuvens, com alguma chuva, voltou o silêncio à vila. não só o silêncio dos caminhos, das casas, mas o silêncio em que nos saboreamos, na calma certeza de que a cabeça do outro nos completa à sua maneira, como desejamos.

mar

do outro lado, o mar é grande, grande demais. podíamos dizer imenso, mas não sabemos o que isso seja. somos ainda novos demais, infantis demais, conscientes demais. por isso lhe chamamos o mar grande. mesmo que não exista tal coisa a que chamaríamos mar pequeno.

gin

o homem chegou cedo ao café e logo exigiu ser atendido. fosse quem fosse, alguém teria que lhe encher a caneca de gin. fosse quem fosse. porque aquela vida não pode esperar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

pormenores

à meia-noite já o centro comercial se entrega a todas as limpezas. parece não haver mais ninguém, senão as pessoas que saem da sala e as poucas que entram, para a última sessão. certas pérolas da literatura são assim mesmo, como um palácio enorme, feito para milhares de pessoas se acotovelarem a admirá-lo, mas entregues a nós, para que no silêncio apenas tocado por um aspirador ao longe lhe notemos, pelo canto do olho, os pormenores.

livraria

em casais brancos a chuva embate, ao de leve, nos grandes vidros da antiga escola feita livraria ou casa de sonhos. está quente lá dentro, acredito que sejam as cores de todos os livros ilustrados do mundo a dar-nos as boas vindas, como os sorrisos simpáticos de quem nos abre a porta e toda a existência. do lado de lá da serra, óbidos, o castelo, uma casa grande com uma antena parabólica. mas os passos sobre o soalho cuidado, as mãos que afagam móveis e páginas, o cheiro da terra molhada quando saímos, isso, isso fica connosco para o resto da viagem.

outono

entretanto, a chuva no pára-brisas, os milhares de abóboras à beira da estrada, a história dos doces e dos sonhos, os pés que se imaginam molhados, terras chamadas navalha, colher maçãs que parecem crescer selvagens para lá de toda a civilização, o outono, sim, diria que o outono chegou, e com ele as nossas cores.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

o monge

não avalies, no entanto, o computador pelas marcas dos punhos, nem a camisa pela gola usada. não avalies os pés pelos sapatos, nem um disco pela sua capa. vai mais longe que isso. vai, sempre, muito mais longe que isso. o hábito não faz, definitivamente, o monge.

hábitos

os computadores são como a roupa, uso-os ambos até ao ponto em que já toda a gente percebeu que está velho e merece lixo, mas eu resisto. no fundo, habituei-me a ser um animal de hábitos. só isso.

correr

o olhar era tudo menos vazio; a surpresa, talvez, a curiosidade, em apenas poucos segundos. isto porque, quando se vai correr, ao longe podes adivinhar o interesse, mas tens sempre tempo de menos para o confirmar quando de te cruzas com o objecto. e não vale parar.

dias

depois de um glorioso dia de sol, um glorioso dia de nevoeiro. depois de uns dias a arrastar o pé sozinho, uma dança acompanhado. depois da loucura, a paz que se avizinha. estes dias que têm de tudo são bem capazes de dar cabo de mim.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

boas notícias

as boas notícias são que garcía madero e lupe foram, provavelmente, felizes para sempre. as boas notícias são que cesárea tinajero, apesar de morta, previu 2666. as boas notícias são que, atrás de uma janela, se esconde sempre outra janela, outra janela, outra janela, outra janela, outra janela, outra janela, outra janela, outra janela, outra janela.........................................................................................................................................................................................outra janela...

telecomunicações

e ainda há gente que acredita que o mundo vai todo acordar num longo abraço. como se o carinho nos fosse natural.

vida

não, o moral da história não é chegarmos sempre tarde demais, nem voltarmos aos mesmos sítios, nem lermos os mesmos livros. não, o moral da história não é ouvirmos sempre a música, perseguirmos os mesmos sonhos banais, bebermos demasiado nas noites de fim-de-semana. não, muito menos se trata de viajar para barcelona, ler roberto bolaño, pensar que todos os tratados de paz se assinaram em ribeira de pedrulhos. é algo mais profundo, incompreensível, mas nada, nada nobre. é a vida. a porra da vida.

homem nú

e depois ele olhava nú, em frente ao espelho, a barba crescer-lhe, e um helicóptero entrou-lhe pela janela dentro, falou-lhe do amor e das viagens ao espaço, comprou-lhe uma garrafa de vinho que beberam os dois, fumaram cigarrilhas espanholas, fez promessas de voltou e nunca mais apareceu, ficou fechado em casa, ficou fechado no mundo, e quando o quis voltar a ver, bem, nessa altura, ele já não existia, nem o helicóptero, nem o homem nú.

homem alto

não tanto o homem alto que bebe gin em canecas e se passeia pelas ruas a lembrar os seus tempos de futebolista, não tanto o homem alto que fala de húngaros míticos e de provas de ciclismo, enquanto pede, com um certo ar de don juan chorão, que lhe encham de novo o copo, que lhe façam bem as contas, que lhe mudem o canal de televisão, que lhe dêem os bons dias, mesmo que seja o louco, o louco que corre, pela aldeia.

louco

como um louco corre pelas ruas da aldeia, um peso putrefacto no corpo, mas é nos dentes que sente a explosão, como se fossem rebentar e saltar-lhe pela boca, uma ansiedade que não é capaz de dominar, o fim da história, o fim da história.

domingo, 6 de setembro de 2009

mundo

esta manhã acordei e não ouvia nada. apenas ruídos, às voltas, dentro da minha cabeça. acordei assustado, levantei-me da cama, vi que o tempo estava nublado. apeteceu-me fugir. mas como disse um velhote que mais tarde encontrei mais tarde, já noutro lugar, esta cidade, ao fim-de-semana, é uma aldeia. e eu julguei que ele falava do mundo.

feitio

o manuel disse-me isto:
eu estou proíbido de lá ir. porque o inspector abre o projecto e diz assim, vamos lá ver então o que há para fazer com isto, e começa a disparar, isto não pode ser assim, isto devia ser assado, e eu começo logo a passar-me. por isso é que estou proíbido de lá ir. eu sou daqueles que peço logo ao polícia que se identifique.
e eu sei que as pessoas são assim.

liderar

ontem o jorge do café disse-me isto:
se eu liderar uma equipa com quatro pessoas que trabalham bem, eu só tenho que as organizar, impôr a disciplina necessária para que cada um eles faça as coisas que sabe fazer. no entanto, se eu liderar uma equipa de quinze miúdos que ainda estão a aprender, então eu tenho que ensinar, deixar que eles façam as coisas para irem aprendendo. nesses casos, a disciplina é totalmente desenecessária, porque eles ainda nem sabem o que fazer.
e, de repente, fez-se luz.

sábado, 5 de setembro de 2009

tudo

ele canta baixinho debaixo do lençol, não quer que o sol venha, não quer que a noite acabe. ele canta baixinho debaixo do lençol, não quer ter que falar, não quer ter que dizer. ele canta baixinho, ele canta baixinho, e o sol vem, e a noite acaba. ele canta baixinho, ele canta baixinho, e mesmo querendo, acabou por dizer, acabou por dizer. tudo.

diferente

ele descia a rua pela fresquinha - se é que se pode falar de fresquinha sob os quarenta graus de luanda - e corria a procurar um café ao balcão do senhor vitorino. logo ali passava os olhos pelas gordas do jornal e sorria perante o silêncio da palavra escrita. ele era assim. e mesmo quando o julgavam igual, ele sabia que era diferente.

hermenêutica

no fim da civilização, jorge loução aparecerá de guitarra e cantará músicas de eros ramazotti e take that em versões desafinadas entre copos de jeropiga. uma parte das pessoas pensarão "mas quem raio é o jorge loução?", enquanto as restantes correrão desenfreadas para o balcão de um bar, na esperança de que um copo (ou dois) de jeropiga lhes faça perceber o que o homem está ali a fazer.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

um

falta um, dizia ele, falta um. falta um para sermos, para sempre, incompletos.

corpo

o corpo é assim - deitado, a noite inteira na cama, dorme de um lado ao outro do colchão. o corpo é, mesmo, assim - acordado, pelo despertador, a correr para o duche, a respeitar horários. mas ao fim de algumas horas - a correr, a saltar, cavalinho não saía do lugar - o corpo é assim - esforço, degradação inglória - algo pronto a cair, deitado, na cama - a noite inteira, a noite inteira.

lengalenga

não saber como contar, um dois três, chegar a meio, começar outra vez, não saber como dizer, quatro cinco seis, o ano inteiro a noite de reis, não saber como fazer, sete oito nove, e lá fora à noite chove, estou no princípio ou no fim, sete quatro um, não vais querer salvar nenhum.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

algures o paraíso 3

no relógio de ponteiros, atrasá-los até algumas décadas atrás (é à escolha do freguês, consoante os gostos). comprar um casaco realmente cool. mandar uns quantos tipos à merda. olhar para o céu, respirar fundo. e depois fazer tudo como se estivesse a correr para o infinito.

algures o paraíso 2

algures o paraíso e o jarvis cocker sendo o leading singer de um coro de anjos. a guitarra a espreguiçar-se debaixo das palavras provocadores deste inglês alto e esquelético. repetir-lhe os passos e não impedir o desejo de dançar perante cada espelho onde se passe. fazer a barba mas deixar um curto e ridículo bigode. calças uns sapatos com solas que faz tac tac. algures o paraíso.

algures o paraíso

acordar e adormecer a ouvir jarvis cocker.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

setembro

haverá alguma utilidade em ser setembro, em ver todos os lugares de estacionamento preenchidos, em saber das pessoas que regressam às suas casas, ao seu dia-a-dia habitual. por mim, ficou-me a sensação de um longo verão, embora o ano esteja a ser tão pequeno (foi ontem a passagem de ano com o aquecedor ligado e um filme da guerra das estrelas na televisão). haverá alguma utilidade em ser setembro, setembro é o mês nove e nove é o número daqueles que finalizam, marcam golos, festejam perante as plateias. é agora que a minha casa fica sozinha plantada no mesmo lugar, onde o sol a aquece mais porque há menos gente, onde o silêncio é envolvente e se pode ler um livro inteiro numa só noite. haverá, ainda assim, alguma utilidade em ser setembro. as palavras continuarão a ser-nos doces, novidades surgirão pelas mãos de quem menos se espera e algumas das grandes expectativas cairão como frutas demasiado maduras. essas, nem para compota, diria uma tia afastada que seguramente existe, mas eu nunca conheci.

ler

e então, por entre todo o espalhafato, paixões, amores secos e uns copos de uma aguardente péssima que lhes dava um hálito ainda pior, vinha-se a descobrir que nenhum dos dois sabia, sequer, ler.

presente

não consigo deixar de pensar que o belano e o ulisses lima são apenas mais dois idiotas saídos da minha adolescência com a mania de que podiam conquistar todas as miúdas do mundo, embora não fosse por isso que eles mantivessem a sua postura não-estou-aqui-e-não-me-fodam, mas sim porque havia um negócio que não podia parar e que, vá-se lá a saber, mesmo que não lhes garantisse o futuro, garantia-lhes o presente.