sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma palavra para o Maio

No início de Maio de 1886, realizou-se uma manifestação de trabalhadores em Chicago, com o objectivo de reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Nessa manifestação juntaram-se milhares de pessoas, dando início a uma greve geral que se prolongou pelos dias seguintes. A 3 de Maio, um pequeno levantamento levou à morte de alguns manifestantes, devido a carga policial. No dia 4 de Maio, uma nova manifestação de protesto pelos acontecimentos do dia anterior, levou a que a polícia disparasse sobre a multidão, originando doze mortes e dezenas de feridos. Este período ficou na história como a Revolta de Haymarket.

Em 1889, a Internacional Socialista decidiu convocar uma manifestação anual pela jornada de 8 horas de trabalho. O dia escolhido foi o 1º de Maio, em homenagem aos trabalhadores mortos em Chicago. Esta data foi adoptada em todo o mundo como o dia do trabalhador. Em alguns países, a data foi declarada como feriado nacional, noutros, a data foi ignorada e marcada por repressão de estado sobre trabalhadores manifestantes.

Em Portugal, o 1º de Maio só começou a ser comemorado livremente a partir de 1974. Esta data marcou sempre a luta dos trabalhadores, como um dia em que são lembrados os seus direitos e reivindicadas melhores condições de trabalho.

Em 2010, Torres Vedras festeja o 1º de Maio com a realização de uma Feira Rural e com a abertura de todo o comércio tradicional local. O mesmo deverá acontecer em vários outros locais do país, do mundo. Porque é sábado (e ninguém se lembra que é feriado a um sábado), porque é véspera de Dia da Mãe (e as pessoas têm que comprar, comprar), porque estamos a passar uma crise económica (ao menos se preocupasse o mundo com as crises de valores um quarto daquilo que se preocupa com as crises financeiras).

Em 2010, líderes sindicais dizem, para quem quiser ouvir, que “já ninguém sabe o que é uma canção de intervenção”. Em 2010 já tudo é normal e aceitar, porque “assim tem que ser”. Cedemos tudo. Cedemos os direitos, os deveres, as responsabilidades. Cedemos a memória, a coragem, a voz. Cedemos tudo. Vamos continuar a ceder, diariamente, mensalmente, anualmente, porque é o futuro, a modernidade, porque se trata de novas questões que a civilização ocidental enfrenta, pelo que seja. Haverá sempre uma boa razão (sempre houve) para nos esquecermos do nosso papel no mundo.

Resta saber se, quando finalmente sentirmos que o nosso papel não nos convém, ainda estaremos a tempo de reivindicar um outro.