quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
peso
um dia dizem-te na rua que um homem morreu. apesar de tudo aquilo que aconteceu depois, foi um homem com quem trabalhaste durante alguns anos. foi um homem que te conheceu quando eras muito pequeno. foi um homem que era amigo do teu pai. apesar de tudo aquilo que aconteceu depois, esse homem morreu e agora já nada pode que desfaça as atitudes que tomou. não pode pedir desculpa, não pode analisar à distancia, não pode recomeçar o que foi interrompido. nunca se volta à inocência, mas pode-se sempre voltar à decência, aprendeste tu. um dia dizem-te na rua que um homem morreu. e no dia e na hora do seu funeral, tu chegas-te junto à igreja, caminhas atrás do caixão, entras no cemitério, ofereces-lhe uns segundos de silêncio. esse homem morreu e agora já nada pode. tu ainda podes o último gesto de reconciliação. prestar-lhe respeito. e quando sais do cemitério, trazes sobre ti o peso todo da mágoa criada nos últimos anos. agora és tu quem leva em si o peso. agora és tu quem ainda pode fazer alguma coisa para o desfazer.