terça-feira, 28 de julho de 2009
baía dos tigres
na baía dos tigres, pedro rosa mendes não viaja, não atravessa áfrica, não faz literatura. o que ele faz é cartografar o ser humano. acontece que, neste caso, o ser humano é o que sobrou de um portugal que não existe mais, conjugado com (sobretudo) um novo país que demorou muito tempo a existir (angola). acontece que, sendo assim, acabo por me identificar profundamente com a busca de rosa mendes (mesmo que ele, mais que algum tipo de identificação, procure, talvez, fugir do seu mundo, fugir de si, tal como parece adivinhar um militar português que lhe diz que um dia ele ainda se vai matar). sei que isto é confuso. é confuso para mim. ler um livro de mais de quatrocentas páginas (na versão de bolso), ficar agarrado a cada uma delas, sorvê-las a grande velocidade e, no fim, não saber o que dizer. luto contra o meu silêncio, tento tirar alguma coisa, mas não sai. sim, estou certo que precisava de ler este livro (uma outra visão, portuguesa, pós-guerra civil, do território) para ter mais informação, para saborear-lhe a poesia, para me encantar com a descoberta. mas temo que tudo isso se tenha refugiado muito fundo em mim. no lugar que eu não sei dizer.